QUANDO A NOITE CHEGAR

Nada mais que
um sonho de chamas harmônicas
por entre céus virgens
e translúcidos

– os ventos ainda contam
de amores, paixões e quedas
de deuses plurais –:

ainda se ouvem
os tristes marulhos das asas
em voos impossíveis,

enquanto a noite desce,
suavemente, como um manto escuro
a nos cobrir a nuvem
volátil.

Contemplo-te,
exangue e silentemente,
enquanto ainda nos há um pouco de tempo
– e me olhas uma vez mais –,

como se entendêssemos, enfim,
o sem-razão para resistências condenadas
ou para renascentes dádivas
em chuva:

ao escuro degredo,
vão-se desaparecendo os espelhos
e nossos avessos reflexos
prateados:

há prenúncio de dores e choros
pelos becos da cidade

e aos reminiscentes rastros
do sonho quebrado,

feito ruínas, poeira e cinzas
ao chão molhado.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 25/05/2014
Reeditado em 25/05/2014
Código do texto: T4819866
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