QUANDO A NOITE CHEGAR
Nada mais que
um sonho de chamas harmônicas
por entre céus virgens
e translúcidos
– os ventos ainda contam
de amores, paixões e quedas
de deuses plurais –:
ainda se ouvem
os tristes marulhos das asas
em voos impossíveis,
enquanto a noite desce,
suavemente, como um manto escuro
a nos cobrir a nuvem
volátil.
Contemplo-te,
exangue e silentemente,
enquanto ainda nos há um pouco de tempo
– e me olhas uma vez mais –,
como se entendêssemos, enfim,
o sem-razão para resistências condenadas
ou para renascentes dádivas
em chuva:
ao escuro degredo,
vão-se desaparecendo os espelhos
e nossos avessos reflexos
prateados:
há prenúncio de dores e choros
pelos becos da cidade
e aos reminiscentes rastros
do sonho quebrado,
feito ruínas, poeira e cinzas
ao chão molhado.
Péricles Alves de Oliveira