Quando leio Adélia Prado


Me vejo adeliamente observando
O meu entorno
Sentindo os cheiros que me são familiares:
O café coado na hora,forte, macho,
Pra afastar o tédio
Que vez por outra aparece sorrateiro.

Ah, esse quefazer mineiro,
De beira de fogão crepitante,
Ou de fundo de quintal arquejante...

E me lembro da broa de fubá com queijo,
Explodindo em sulcos profundos
No forno abrasador.

E aquela dor de repentemente sucumbe.
Evapora na hora
da ave-maria,
Pois a liturgia exige paz nem que seja
Na força,
Na vontade de pedir a Deus e à Nossa Senhora
E a todos os anjos querubins e serafins
a proteção necessária à lida de cada dia.

E o meu pequeno mundo,
Um microcosmos carregadim
De joaninhas faceiras
e alvissareiras
e outros tantos
ora borboletas ,ora cigarras
Cantantes
Estridentes
Doidivanas
que estouram pra anunciar
A chuva.

Que cai mansinha
feito uma doce carícia
contradizendo todo o prenúncio assustador
o barulho dos trovões
e os riscados no céu dos relâmpagos.

Cai suavemente uma chuvinha
Pra limpar a sujeira acumulada
E fazer ressurgir
a vida oculta nas sementes
Ou mais precisamente,
Acalmar mentes doentias
Com a iminência das enchentes.

O café está servido
Com a broa prometida.
A mesa tem forro axadrezado
Que evita mau-olhado.
E sobre ela as xicrinhas de ágata
Pra queimar ligeiramente os lábios.
Só de picardia.
Lembrando os beijos loucos
E bem mordiscados do passado.


Ah, esse pensamento de Adélia
que me ocorre vez em quando...

 

AmarilIa T Couto