"Rio do amor"
Rio do amor
Amor, rio forte, caudaloso
Jorro infinito, impetuoso
Arrasta a vida toda de roldão
Levando carinhos em sua emoção
Lavando mágoas do nosso coração...
Correnteza rica de anseios
Choros sentidos em confusão
Correntes nutridas no seu arrastão
Fuzarca, delírio, total escravidão
Embolam tudo, no correr, no chão...
Afluentes geridos, córregos sentidos
Que soluçam imagens em suas passagens
Roucos frêmitos criam suas coragens
Deixam marcas profundas em seu arrastar
Presos, unidos e em constante suspirar...
Águas turvas, manchadas, diluidas
Águas claras, límpidas vertidas
Em espumas mistas, frementes, coloridas
Pincelando em tons de um rico esplendor
Matizando esferas do mais puro amor...
Estas espumas, sem querer, refletem
Carícias trocadas e abençoadas
Vêm ladeando, vêm beijando
Plantas e pedras em seu arrastar
Limando arestas, levando folhas ao passar...
Rio, em rítmos que se derrapam
Pulando pedras em seu leito aflito
Mitigando dores, liberando amores
Oferecendo riquezas como as das flores
Sobrevivendo anseios, espargindo cores...
Mas, em sua passagem marca
Feridas que intempéries se aproximam
Rústicas, ladinas, agressivas, ferinas
Fazem-no gemer de intensa dor
Desaba e cai, em cascatas, seu dissabor...
Corre ligeiro, amante, passageiro
Para desembocar em rico estuário
Delta mágico como anfitrião
Que o recebe, sorrindo, tonto de emoção
As águas convidadas, eterno beija-mão...
Nessa intromissão que desatina
Quando feroz, ruge, a rude explosão
Joga-se ao mar para, em furor, se apresentar
Na pororoca, misturando-se ao mar bravio
Em lama, doce, sal, num fantástico chegar...
Myriam Peres