A Menina do Gato Preto
Com céus cabelos,
Esvoaçando pela casa,
Faz as coisas do seu jeito,
Uma moleca cheia de graça.
Brinca com os pés,
Com sapatos de bailarina,
Dançando através,
Dos movimentos da vida.
Os olhos brilhantes,
Com seus óculos,
De hastes empolgantes,
Fecha o olho em monóculo.
A voz que chama,
Um pitoco negro,
Que mia e reclama,
Dengoso, faceiro.
Um pula no colo do outro,
As garras articuladas,
Massageando aos poucos,
Sobrando algumas unhadas.
A menina reclama,
Mas gosta do carinho,
Vez o outra emociona,
Pede mais um pouquinho.
Juntos dançando pelo quarto,
Mostrando os sapatinhos floridos,
Tendo mordidos os cadarços,
Dialogando como velhos conhecidos.
O pelo alisado com a língua,
E a barra do vestido voando,
Juntos são uma só poesia,
O gato e a menina se amando.
Trazendo o grilo ainda vivo,
Como oferenda de antigos ritos,
No respeito dos que são amigos,
Em uma ecologia de belos signos.
Dentro dos olhos da menina gata,
O gato menino aparece,
Pela relação de várias páginas,
Desse livro que o convívio escreve.