Rascunho
Sobre a calçada,
Um rascunho,
Talvez uma carta,
Feita de próprio punho.
Um papel amassado,
Muitos diriam isso,
Chutando no espaço,
Como um pobre lixo.
Mas existe algo ali,
Que se insinua,
Naquela caligrafia,
Que quase está nua.
As manchas de água,
Ainda não dissolveram,
O conteúdo da parca
Descrição que poucos leram.
Passo os olhos em torno,
Desamassando o volume,
Faço mesmo algo esforço,
A curiosidade me assume.
As ideias sobre o que seja,
Anotações de contabilidade,
Lições de aula que se rejeita,
Uma informação sem gravidade.
Sento de terno e gravata,
No beiral da calçada,
Estico os pese deixo a pasta,
Pego os óculos e dou uma olhada.
Estava assim escrito:
“Meu amor,
Tanto quis lhe ter dito.
Só lamento, o que passou.”
A dúvida estava feita,
Se a carta havia sido entregue,
Deixada antes que seu amor leia,
Esmagada por quem leu o que segue.
Observo o céu e busco uma explicação,
Enquanto pessoas me olham espantadas,
Guardo no bolso essa preciosa informação,
De que no amor, não existem coisas veladas.