BARCOS A VAPOR
Não sei dizer por quê
– e que tanto importa
o porquê? –,
mas sei que nos havia
uma praça com flores
onde nos sentávamos,
um mar com esplendores
onde nos navegávamos,
e um amar com fervores
onde nos dadivávamos;
de fora, vozes e imagens
efluiam de ilustres transeuntes,
a nos fecundarem
com outras possibilidades;
e, como não nos fôssemos
mais suficientes,
e, como queríamos a gravidez
das aves e dos girassóis salientes,
caímo-nos em extravios,
esfriando-nos nos gestos,
colidindo-nos nos versos
e morrendo-nos nos restos.
Péricles Alves de Oliveira