PAIXÃO PRECOCE
O menino peralta
Arteiro de natureza
Pulou a cerca, numa destreza...
Rumo ao jardim, à cata...
Colheu apressadamente
Um ramalhete de improviso!
Flores belas do paraíso!
Então, saiu contente...
Ao contornar o frontispício
Num ato de desperdício
Utilizou o ramo como gládio
No focinho do cão sério
Suas calças (quer dizer shorts) em cloaca...
Verteu a ureia em mijo
Mas, para o seu alijo
Correu para uma solitária estaca
Onde, galgou uma frondosa anciã
Cujos galhos soberbos
Salvaram-no de seu afã...
O Tiu ainda farejou suas canelas em sebos...
Ainda bem, pois, notara que seu traseiro
Estava explícito... cujos panos, foram cindidos
Quase Joãozinho, ficou sem os fundos...
Eta! Menino arteiro!
Chafurdado... pelo rompante susto
O guri não teve outra alternativa!
Senão esperar inerte, uma chance nova
De descer daquela árvore e correr... rumo ao muro alto
Mas, até lá... foi obrigado a ouvir os terríveis latidos
De seu algoz canino
Coitadinho daquele menino!
Lá embaixo, o guardião... velava-o, aos grunhidos
Felizmente, mesmo borrado
Tratou logo de se mexer...
Tentou equilibrando-se nos galhos, descer!
Porém, não foi fácil. Coitado!
Ao tentar equilibrar... escorregou-se
Caindo ao solo batido, do alheio quintal
Assim, de repente, o monstro apresentou-se
Deixando à mostra, os seus pontiagudos dentes, do mal!
Se esgueirando, chegou à base da muralha
Onde agarrou-se à relva, ao mesmo tempo que bradava
Atemorizado, só gritava...
Quando, um objeto caiu ao seu lado, após bater na calha
Era, um genuíno estilingue
Não pensou duas vezes, tratou logo de pegar o bodoque!
De prontidão... tentou armar-se de pedrinhas, mas não as encontrou ao redor!
Então, lembrou-se das bilocas no bolso, e jogou-as no cachorro com fervor
Porém, não acertou nenhuma no animal opressor- guardião
E, o bicho, se aproximava cada vez mais... ao seu iminente encontro
Ofegante... dava até pra ouvir os batimentos do seu coração!
Acho que estava até passando mal, já que começara a ficar tonto...
Talvez, fosse o odor desagradável daquela baba nojenta do Cão
O bicho parecia hipnotizar o garoto assustado
Já que o cachorro não tirava os olhos arraigados
Daquele guri, caído, prostrado, ali no chão
Foi quando, o focinho estava a um palmo do seu nariz
Que o menino levado, tentou num ato desesperado
Dar um golpe... uma estilingada no bicho mal-encarado
E, por incrível que pareça, funcionou, o cão saiu gritando com um rubro chafariz!
Apesar de não ter utilizado bolinhas de gude
Joãozinho “pôs o bicho pra correr”!
O cão não se machucou muito, mas ficou evidente a sua vermelhidão rude
Daí foi a vez, do próprio menino correr!
Não tardou muito, e o garoto já estava trepado novamente no cimo do muro!
E, inacreditavelmente, conduzia a tiracolo: o ramalhete, todo esmiuçado
Livrando-se daquela coima, Joãozinho saltou para a liberdade, caindo do outro lado
Agora estava plenamente feliz e livre... mas, todo sujo, já que havia caído no barro!
Todo sujismundo e emporcalhado, o menino correu ladeira à cima
Apresentando-se na vanguarda de uma bela menininha, meiga e calma
Aproximou-se mais alguns passos, estendendo a imunda mão... gemendo de dor!
Ofereceu o que sobrara do ramalhete; ou seja, apenas uma amassada e solitária flor...
Meio sem jeito... a bonequinha de porcelana mirim apanhou o presente, do menino
E, em seguida, retribuiu ao gesto, com um ósculo em sua face
Joãozinho, aproveitando o ensejo, perguntou-lhe se ela queria namorar com ele, sem disfarce
Ana Alice virou-se envergonhada, já ruborizada, e respondeu a inquirição com um doce aceno!
Joãozinho, correu por todos os lados... com o peito abastecido de vontade de viver!
Gritando como um típico felizardo, ora, o regozijo era deveras empolgante, tamanha a emoção
Embevecido, correu mais e mais, quando adentrou-se a um quintal já conhecido, sem querer!
Portões abertos... diante de si: um furioso cão, rosnando com um olho em vermelhidão!...