Antes não havia
Antes não existia nada,
tudo era nada,
caos absoluto.
Antes era o silêncio
gritante e surdo
a amedrontar as noites,
a apavorar os sonhos.
O claro que era antes escuro,
cinzas cores a colorir os muros,
pranto a banhar-me a alma.
Nada havia senão pedaços
disformes e desfeitos dos planos,
coração estraçalhado
caído pelo chão,
jogado pelos cantos.
Antes não havia nada,
apenas sonhos,
desejos que o medo consumia
vagarosamente,
tragava
para as sombras da escuridão.
E eu
simplesmente assistia impassível
o mundo desmoronar.
Antes não existia nada,
além da covardia e do medo
a formar sombras apavorantes
nas paredes do quarto escuro,
a tornar escuras
minhas horas e meus dias.
Havia apenas o sonho,
turvo e obscuro
a reinar sobre uma mente
perturbada e triste.
Antes eram asas amarradas e presas,
atadas ao medo do desconhecido,
apavorantes mudanças e transformações.
Hoje já não existe o antes,
se perdeu nos medos,
mas o agora
se renova no instante mágico
do querer constante.