Último brinde

Último brinde

Ergo um brinde ao que não aconteceu

Ao Amor não consumado que morreu

Ao destino que subitamente se perdeu

Ao idealizado (re)encaixe que não ocorreu.

Provo a taça cheia de suave veneno

Misturada com lágrimas de sereno

Ignoro seu conteúdo definitivo e letal

A esta altura nada mais pode me fazer mal.

Só se perde o que já se teve, pelo menos por um momento

Tolice pensar como concreto algum etéreo pensamento

Sem contato de pele, toque e sabor, todo prazer é ilusão

Amor Platônico só funciona no mundo da imaginação.

Toda semente que por algum motivo não floresce

É relegada ao anonimato, todo mundo a esquece

Talvez até mereça que alguém lhe dedique uma prece

Mas em um eventual reencontro ninguém mais a conhece.

O quase não tem lugar em nenhuma história

O tempo se encarrega de apagá-lo da memória

Mesmo uma vida inteira vivida em um mero instante

Muito rapidamente fica anos-luz distante.

Subitamente a taça fica completamente vazia

A noite, como o céu sem estrelas se torna fria

A dor venceu irreversivelmente a alegria

Agora tudo é silêncio e impera a agonia.

Leonardo Andrade