Estranha Afeição
Estranha essa afeição
que nos une, nos reúne.
Que desmaterializa a solidão
e solidifica o amor.
Que chora em riso e ri em lágrima,
e chove com arco-íris
quando o olhar se nubla à toa...
E se apresenta na ausência
com carícias de saudade.
Estranha essa afeição
que não havia
e, de repente, existe sempre
porque sempre existiu
a esperar que no achássemos...
Porque sempre procurou
pelo dia prometido
pra se revelar em nós.
Estranha essa afeição
que sem nós sempre viveu
renascendo na roseira
sob o signo da lua,
Insurgindo-se no cio das primaveras exiladas,
dos jardins por trás das grades,
dos vasos nas varandas
e, hoje, por encanto, nós sem ela não vivemos.
Estranha essa afeição
que nos circunda de abraços
e enlaça em frenesi
e aperta com volúpia
e em êxtase desmaia
e finge que morreu
pelo trêmulo prazer
de nascer em cada beijo
e de novo se matar
do amor que a ressuscita.
Estranha essa afeição
que nos separou do mundo
e nos fez indivisíveis.