Arranha céu

Olho as nuvens,

e o tráfego de gente miúda -

rotina de vertigem,

e medo de altura.

Agarro teu corpo,

meu porto seguro

diante da janela

e do nó em minhas pernas.

Entrelaço

a boca,

o beijo,

a mão no seio,

em teus cabelos de vinil.

Os teus braços cordilheiras,

corredeiras que me levam

feito a água no teu rio.

E as águas passaram nestes corredores

em que os amores sempre passarão.

Mas ela não passa,

se enreda na malha fina

da carne, da aspirina

e da marca de batom.

E as pessoas que passam,

agora passado que escorrem por entre os dedos,

e entre olhares que se cruzam no elevador.

Aperto teu rosto no meu peito -

relevo discreto renovando o pulsar.

Cicatrizando a ferida aberta -

ilha deserta que povoamos na sala de estar.