Divino Amor
Às vezes eu me pergunto
qual amor tem mais constância,
o que perdura à distância
ou o que perdemos juntos?
Me encanta tanto esse assunto
que sendo filosofia
faz parte do dia-a-dia
das relações dos amantes
quando a vida, num instante,
se cansa de ser poesia...
Pois pensando se conclui,
na velha contradição,
que o homem destrói c’oas mãos
o sonho quando o possui...
Mas há sempre alguém que argúe
com razão que julga certa
que o amor só se completa
quando for vivido a dois
mesmo que morra depois
da solidão mais repleta.
O ser humano distorce
o amor mais belo e mais puro
quando condena o futuro
com sentimento de posse,
pois ama como se fosse
o amor uma permuta
ou um dom que se desfruta
para o próprio bem estar
esquecendo-se que amar
é uma entrega absoluta.
Amar é antes de tudo
ser uma espécie de deus
que tendo um mundo só seu
transfere a outro esse mundo.
É perceber, bem no fundo,
dessa adição tão estranha
que é quem mais dá quem mais ganha
porque na soma do amor
o bem possui um valor
que a razão não acompanha.
O Amor é um sentimento
que supera desatino
e, talvez, por ser divino
não cabe no pensamento,
tem outro comportamento
contrário a toda ambição,
oposto a qualquer paixão,
pois demonstra a experiência
que amar por conveniência
prostitui o coração.
Amor é o dom que se tem
de um altruísmo tamanho
que acolhe em nós o estranho
e paga o mal com o bem.
É existir por alguém
que em nossos olhos reluz
ao ponto que se deduz,
embora sendo cruel,
que o amor só chega ao céu
após passar pela cruz.