FLASH
à meia-luz o brilho do teu rosto
tão perto, tão perdido
refletindo as luzes dos neons
em outros tons
à meia-luz despe-se o teu jeito
e se faz mais o que já não poderia
à meia-luz, a meio palmo, a meio ano-luz
teus lábios
e o que há de mais em ti
amei à luz
e os sons das minha vogais
engravecidas
sufocavam as consoantes guturais
ensandecidas
simplificando uma vida em meia hora
à meia-luz, sobre rodas
amei à luz o teu silêncio
e tua dúvida do meu modo de
falar das coisas mais banais
amei, talvez, ouvir tu dizeres
não saber exatamente o que é amar
amei não saber só
e o que há além para em ti sonhar
à meia-luz
não disse o que queria
que tu ouvisses
não disse
nada além que deveria —
monologuei, agora sei
pois nada disso muito interessaria
nem mesmo a mim
à meia-luz o teu perfil
amei à luz o que surgiu
amei, mesmo não saber
e te falei de quantas coisas
só sobraram
falei, mesmo sem poder
da tristeza, da alegria
e de quantas coisas eu devia
emudecer
mas se eu sou você, à meia-luz
não há o que temer
voei
pois mesmo sem querer
mesmo sem tocar
amei a luz, amei