Ínfima Morena...
Juntando tostão por tostão
Sonhava em comprar um móvel computador
Resguardei-me como flor em botão
Na simplicidade típica do interior
Com muita fé em Deus e alegria
Queria transformar percalços em suave poesia
Para conseguir dinheiro fui colher café
Romântica sem saber
Que no coração dele
Já existia uma outra mulher
Escondi os calos na minha mão de moça
Porque achei que doía
Mais o que dói mesmo
É a sensação de ser feita de trouxa
Mesmo assim me levantava bem cedinho
E era banhada pelo calor do sol
Para esperar por mais uma noite sem carinho
Dengosa embrulhada num lençol
Mas toda vez que ele pronunciava meu nome
Eu podia erguer meus negros olhos
Sem sentir vergonha de ser fiel há um homem
Não que eu acreditasse mais nesse tal de amor
Nem que pudesse competir com mulheres fatais
Mesmo assim eu dei a esse senhor
O que eu tinha de mais precioso
Todo o amor da moça de Batatais
Até que numa fria manhã de inverno
Ele vestiu seu alinhado terno
E descobrindo que há nada nesse mundo eu era igual
Pediu que me chamassem com urgência no cafezal
Eu vim sorrindo...
Em meio a poeira trazida pelo vento
Moça antiga nascida fora de seu tempo
Ofereci a ele uma xícara de café
E acomodei-me para ouvir:
Quero que você aceite ser a minha mulher
Não tive dúvidas...
Abri a porta segurando firme a tramela
E apontei a ele o caminho da liberdade
Porque quando pela porta não adentra a verdade
O futuro envergonhado foge pela janela
Saber se doar ao outro é uma dádiva suprema
Que como eu foi confiada a seus braços
E confundida com uma ínfima morena...