fossemos fogo

Fossemos fogo

outra coisa qualquer

com vontade própria

usurpada extirpada

queimaríamos

Tivéssemos o desejo

perfurada pelo vento

pelo sopro involuntário

de um desses deuses sem nome

arderíamos

Fossemos fogo

nossos corpos

do torpor se ergueriam

rasgaríamos as vestes

uma luta de travesseiros faríamos

Mas aqui o telefone não toca

seguimos invisíveis

sem sequer sorrir

desintegrados aos montes

feito cinzas que o fogo não tocou