"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc. Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."

Manoel de Barros

Ah,poeta! Eu também sempre quis ser muitas
E na minha rotina diária sei que consigo a transmutação.
Pela manhã sou uma, cabeça mais leve,
Que não se atreve além do trivial.
Já à tarde a mente cria asas,
Como as das borboletas,
Leves,coloridas, mas que não se satisfazem com a mesma flor.
À noite então,meu poeta, alma,pensamentos,
Corpo,
tudo se consome em sofreguidão,
Em volúpia,
Em desassosego,
Em saudades infinitas,
em personagens
Das mais insanas,
Das mais ternas,
Das mais humanas.

Eu também preciso ser outras,
Incorporar outras vidas,
Me perder nas identidades
Conhecidas,
E me ocultar no mais oculto de mim.
Sou assim:
Tão aqui,tão previsível.
Tão ao alcance da mão
Daquele (a)
Que passa e me vê.

Mas ao cair da tarde.
Com a chegada das primeiras estrelas.
Quem me reconhece?
Dirão alguns mais soberbos:
Claro que você é você mesma,
Te reconheço sob qualquer máscara.
E eu vos digo preciosos amigos:
Não!
Eu também tenho na minha incompletude o melhor de mim.
É na comichão de minha alma,
Que nunca é perceptível nem ao olhar mais atento,
Que me revelo,
Que sou eu.

E quem sou eu verdadeiramente?
Alguém que ama,
Ama,
Ama,
E se refaz nesse amor fragmentado
Sempre,
Pois a minha plenitude
Ou de qualquer ser,
Nada mais é que um vôo de borboleta,
Lindo,tênue e ilusório
A um só tempo.
amarilia
Enviado por amarilia em 14/04/2013
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T4240019
Classificação de conteúdo: seguro