Apocalipse

Ocultas na reentrância do poema que não fiz

estão as frases de amor, que sequer declarei;

as quais, mesmo omitidas, o meu silêncio diz,

é que, buscando esconderijo, tudo te mostrei;

e desenhando essa lacuna com a sua medida,

nessa carência que, justo, seu número tinha;

essas fantasias que, te desnudaram, querida,

eram só os vistosos reflexos, da nudez minha;

discrepâncias brotam, eu sei, a cada segundo

em nossa terra, brotaram eu bem reconheço;

o Papa chamou a Argentina de fim do mundo,

os hermanos sempre pensaram ser o começo;

meu fim do mundo é essa sina avessa, ilógica,

que ameaça com abismo de causar vertigens;

você poderia mudar uma pintura escatológica,

entrar de mansinho, reescrevendo as origens;

que, remontam o Paraíso bem antes da cobra,

sol e lua vivos, sem ameaça de haver eclipse;

se, você recusar reverter, essa obscura obra,

aí prosseguem as pragas, do meu Apocalipse.