Soneto XLIII
Um sinal teu busco em todas as outras,
no brusco, ondulante rio das mulheres,
tranças, olhos apenas submergidos,
pés claros que resvalam navegando na espuma.
De repente me parece que diviso tuas unhas
oblongas, fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira,
e outra vez é teu pelo que passa e me parece
ver arder na água teu retrato de fogueira.
Olhei, mas nenhuma levava teu latejo,
tua luz, a greda escura que trouxeste do bosque,
nenhuma teve tuas mínimas orelhas.
Tu és total e breve, de todas és uma,
e assim contigo vou percorrendo e amando
um amplo Mississipi de estuário feminino. ( Pablo Neruda)
É assim que sinto o amor...
Também do meu homem quero essa ternura
quero esse querer infinito e louco
dele quero o olhar que se prende
a cada detalhe do meu corpo
O amor não pode ser só planura
há que se mergulhar nos poços insondáveis
nos abismos imperceptíveis
a quem não se aprofunda no querer
Do meu homem quero a perscrutação silenciosa
junto com as carícias mais atrevidas
quero o sussurro
o deleite
o me chamar de querida
mas de uma maneira
que todo o meu ser se torna dele
numa entrega terna e absoluta
Que mulher não deseja
na sua intensidade ser entendida?
no seu prazer ser correspondida
virada pelo avesso
e ser amada
apesar de suas manias
inconstâncias
e fragilidades?
Ah,
mas o medo existe
o olhar sempre fica na superfície
e as mãos se acomodam
frias e quietas
as caricias ficam mornas
previsíveis
por demais corretas
Mas do meu homem quero
a inquietude
o desejo aflorado na pele
a alma decifrando os subterfúgios
e o mel se derramando em cada palavra
em cada gesto
em cada olhar
ainda que atrevido
capaz de falar delícias
ao meu ouvido
e que não deixa de ser gentil
me faz sentir única
síntese de todas as outras
E de repente me faz sentir
como a musa do poeta
"Tu és total e breve, de todas és uma,
e assim contigo vou percorrendo e amando
um amplo Mississipi de estuário feminino."