A voz do silêncio
Abate-se
Por sobre o meu corpo nu
Estendido no leito improvisado
De sonhos claros e imprecisos
A densidade da noite escura como breu
O silêncio impera e não impera
Doseado com o grito da natureza
Que dorme acordada
E sonha com nada
Escuto o silêncio e penso:
- Como é possível escutar o silêncio,
se o silêncio é a negação
De qualquer vibração?
Logro dos sentidos...
Não é o silêncio que escuto,
Porque ele está ausente,
E jamais poderá estar presente
Enquanto restar fios de pensamentos
E amores perdidos
Abate-se
Por sobre mim
O silêncio do que, lá no fundo,
Nunca cala
E me precipita ao abismo
Do silêncio que foi silêncio
E não devia
Ao deitar-me
Descobri que não tinha para despir
A capa das imposturas tolas e formais.
Deitei-me mais rápido.
Não lavei os pés!
Para quê?!
Se o que necessitava era de lavar a alma
E ressuscitar o que dentro de mim morria
Oh, que raiva
Sinto!
Contra mim?
Não!
Minto...
Contra quem não soube
Escutar o silêncio meu