Frações da alma

Há uma parte em mim, vendo como normal,

Essa distância fria, assim, alienada de você;

Não acho essa, porém, a parte mais legal,

Pois ação dessa louca, deixa o resto deprê...

Há outra parte vacinada cuja têmpera ensina,

Esperar apenas o pior, se vieres, será lucro;

Mas, quem pode curar câncer com aspirina,

O pôr a criança no lombo de cavalo xucro...

Mais uma parte safada que hirta me acossa,

Nessa mescla cofusa de desejo e de amor;

A fazer de minha cama, partilha, cama nossa,

Onde ela quer pulsar dentro, do teu calor...

A maior parte, confesso, é minha face criança,

Que acredita em coelho da páscoa, papai Noel;

Até ante fatos adversos resguarda a esperança,

A sina tira sua escada, ela segura-se no pincel...

Por fim uma partícula que não está nem aí,

Se vai ou racha, dá ou desce, e o quê você diz;

tomou a Europa, queimou Roma, dane-se, e daí,

Mas essa é a parte que não quer me ver feliz...

Sou democrático, que arbitre, pois, a maioria,

É sempre essa turba que a vontade impele;

O escrutínio dessa, deixou claro que eu queria,

Tatuar de beijos, cada milímetro de tua pele...