O amor; somos cegos
Forçar o amor é perseguir a sombra,
E a sombra se oculta na escuridão;
Deve ser como ave fugitiva que lembra,
Que havia conforto em certo ombro,
Volta solícita, nas veredas do coração...
Senão que ganhe o mundo se espalhe,
Beba das fontes que quiser o desejo;
Esse; menino precipitado que escolhe,
O reflexo fácil de ilusórios espelhos,
Feliz como rato que encontrou o queijo...
O verdadeiro amor tece o próprio liame,
Urdidura ilógica, que faz sempre sozinho;
Pode sobrevoar Veneza, Paris, ou Viena,
Livre pra saber-se preso ao que ama,
Tendo asas, retorna presto pro ninho...
Pensam uns que tocando as notas certas,
A música nos fará sermos convincentes;
Amor não se rende a ideias assim curtas,
A cobra cede se o encanto dá as cartas,
Silencia a flauta, ameaça novamente...
Aquilo que plantei eu sempre sego,
Menos o amor, é d’outra sementeira;
Alheio a lógica, mérito, ou preço pago,
Aí, dizemos nós, que o amor é cego,
Para disfarçarmos a nossa cegueira...