Esaú e Jacó

Desamor realidade d’uma quimera,

A pedra preciosa jogada na sarjeta;

Coroa sonegada para certa espera,

mutila as pernas e retém a muleta;

flor murcha, em plena primavera,

ojeriza do papel pra com a caneta;

desconhece o nexo da bela e a fera,

e nunca bebeu, do copo de Julieta...

Amor é estilista talentoso, solícito,

lançando moda, visão muito arguta;

traveste até o logro com pano lícito,

por bom motivo implanta a escuta;

grita em silêncio, mostra o implícito,

se pode fazer discreta a sua labuta,

se preciso desnuda mostra explícito,

enfeita pro desfile a uma prostituta...

Os dois já tiveram seus casos comigo,

E um ainda tem, dado esse, estar só;

Fujo de um e a outro busco, persigo,

Só desistirei, quando embaixo do pó;

Todos os encontram, bem como digo,

Mas, um, toca em Sol, outro, em Dó,

Um, manjedoura, outro apenas jazigo,

São gêmeos rivais, como Esaú e Jacó...