Frágil-idade
Por que te dás em rosas
ao que em mim se destempera
sob o ácido do tempo?
Se não sou mais que um grito
de cristal estilhaçado.
Por quê?
Se, depois de cada aurora
emoldurada nos espelhos,
choras pétalas de sal
ao descaso dos ocasos.
Tu és pura qual a margem da lagoa
onde as garças se recolhem
trazendo nuvens nas asas
umedecidas de céu.
Não deixa o que em mim
se faz relâmpago,
vento, ventania, vendaval,
perturbar o sossego de águas claras,
com ímpetos de raios e trovões.
Às vezes,
a ternura se rebela
e, por medo, cala a música,
e, por triste, se recolhe.
O que cala sempre fere
com a fuga da palavra
quando a ausência se apresenta
pra vigiar a solidão.
Por que te dás em primavera
e permites que o anjo que te habita
me acompanhe?
Por que bordas as bordas
de efêmero infinito
com um fio de esperança?
Por quê?
Se tu sabes que não sei
onde findam estas linhas
sobre as quais eu me equilibro,
Se tu sabes que não sei
onde tudo em mim é nada.