O AMAR É FÓSFORO

O amor se ajoelha nos rituais da entrega.

Mansa é a palavra entre afagos e cochichos.

Entretanto, dorme nos amantes a despedida.

O canto é sempre úmido pra quem fica

ou segue sozinho.

Por mais que a solidão nos dobre

urde sua memorial linguagem

– repto e dádiva dos ventos de outono –

o indomável facho que ilumina o corpo.

Há sempre alguns seixos rolados

doendo sob pés descalços

e o desejo percorre o beijo e o amasso

no filete do riacho dos dias.

Peixes nadam sob nós

– sombras ágeis na pele e nos espelhos –

escondem-se submersos entre pedras.

Por mais que se não queira,

o amar é fósforo à luz do tempo,

seu inominado mistério de ser.

Peixes nadam em nós

sob o selo mudo das esperas.

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/3961809