Resgate
Minha amada...
Cada poro de meu corpo te lembra; cada fio de meus cabelos ainda está impregnado de tua olorosa presença; os meus tímpanos guardam, avaramente, os teus gemidos incendiando as nossas repetidas núpcias recém-degustadas...
Depois que tu foste embora pus-me a conjeturar, órfão de teu pródigo abraço, sobre o amor já feito: o duplo prazer de refazer, passo a passo, a vertiginosa jornada pelo teu corpo, pecadoramente debaixo do meu aninhado...
Saboreei, no Universo sacrílego de minha cabeça, as nossas fantasias, sempre renovadas, que carreiam para o paraíso de nossa alcova todos os momentos que os mais ardorosos amantes jamais sonharam tornar realidade...
E eu me soube, amada, nessa nossa arena ainda marcada de teu suor, o mesmo Fauno insaciável de outras eras, o mesmo urso que te devorava, da maneira apressada que me concedias, com famélicos e insuficientes beijos...
E ontem, sabendo-me ainda mais amado, amei-te de forma infinitamente mais louca: deixei, (depois de lacrar todos os portais da decência) que de mim jorrasse em tua boca todos os meus desejos - confessos e inconfessados.
E foi através dessas reminiscências, minha amada, que eu vim a me descobrir imortal, pois que ressuscito de minha angústia atávica todas as vezes que me resgatas, trazendo-me, a fórceps, de volta a vida para darmos continuidade ao nosso interminável bailado de amor.
Terras dos Sonhos, manhã de Quinta-Feira, já nos estertores de Setembro de 2012.
João Bosco