As cartas que não mando
As cartas que eu não mando são cruéis.
Elas se constroem em linhas bobas,
Maculam tão inocentes papéis
Com tolices tais quais as paixões todas.
Roem-me tanto as cartas que eu não mando,
Doem-me tanto só tê-las pra nada
E o pesar em meu bolso vez em quando
É pra proteger o sorrir da amada.
E se eu deliro em curvas aladas
É que o retratar quem amo e não posso
Me arranca o mundo, me joga às fadas.
E eu empilho tantos verbos inúteis
Misturados em orações fadadas
Ao deitar de letras fúteis, e nada.