No dia seguinte...
E no dia seguinte acordou
Olhou-se no espelho
Fez a barba, encarou suas rugas e seu rosto cansado
E no dia seguinte tomou sua condução
Viu as pessoas apressadas demais lá fora
Preocupadas demais, rancorosas demais
E no dia seguinte almoçou na mesma mesa de sempre
Escolheu sua cadeira favorita de todos os dias
Do jeito que sempre fazia
E no dia seguinte sorriu ao final de mais um dia
Esquecendo que não era mais um
E no dia seguinte a cama vazia
A paisagem vazia, a tarde vazia demais
Os sonhos cheios de espaço
A solidão do claustro
E no dia seguinte o abraço faltando
O frio castigando
O peito sangrando
E a fé se esgotando
E no dia seguinte fazia tudo ao seu modo
Como em sua cartilha de vida
E no dia seguinte era só noite
Saltava o resto, sofreria menos
E no dia seguinte...
Esperava sentir falta
Continuava a fazer igual... Acordar e fazer a barba, encarar-se...
E esperava que o espaço também morasse lá
Que no caminho da rotina o destino lhe escapasse e lhe pregasse uma peça
Surpreendesse o sonho igual
Que mudasse a paisagem banal
E que no dia seguinte dançássemos mesmo fora do ritmo, sem passos decorados ou marcados
Mas que fosse a dois... Nós dois, pra mais que o dia seguinte
Mas sem pressa, de ser tudo ou de acabar
Sem tempo pra canção findar ou o verso esgotar
E que no dia seguinte...
Puxasse mais que uma cadeira no jantar