Poema para a Voz
[Desfragmentando para me preservar,
mas é inútil;
o todo me arrebenta]
É profunda, como um canyon em sua beleza
tem o tom da devassidão das noites escuras
vem camuflada num plebeu que na realeza
banha em ouro o meu corpo e as nervuras
Pertence ao terceiro homem de Terezinha
que chega e se deita sem ao menos pedir
sabe o que lhe pertence e se avizinha
geme, sussurra, devasta como um devir
É inclemente como o inferno mais quente
e levita, como nuvem branda pelo azul
faz o sangue pulsar em caldeirão fervente
e a alma ser viageira pelos caminhos do sul
Chega em tantos tons e em tantas toadas
faz rir, chorar, sussurrar e mais gemer
é inteira e plena como as esplanadas
como um rouxinol em seu dom de viver
É voz de um índio em seu canto de guerra
é voz de um menino em seu canto de paz
é voz que aos meus ouvidos mais encerra
a beleza do amor que em suas notas se faz.