Quero morrer

Tentei hoje cavalgar a inspiração,

Dizer-lha o que quero, e como é;

Nem galope, ou trote, só um não,

Meu cavalo veloz virou pangaré...

Os temas fugiam entre os dedos,

Entre mim e os versos, alto muro;

Nem sonho ou realidade, enredo,

Só um cego, tateando no escuro...

Aí lembrei a receita do Quintana,

De repente me faiscou essa brasa,

Solte as rédeas acalme essa gana,

pingo acha seguro o rumo, a casa...

Então, dei rédeas, à cavalgadura,

E começou a mover-se a morta;

Entre sendas trevosas foi segura,

Levou-me à amada, até sua porta...

A ausência dela engendra poesia,

Talvez, ela vindo, o poeta morrerá;

Mas, foi Jesus que falou isso um dia,

“quem perder sua vida, achá-la-á”...