Soltando os Passarinhos...


Cansada de juntar tanta quinquilharia
Arrumei minha trouxa e fui embora com ele um dia
Ele moço pobre morava numa casa feita de sape
Meio encabulado me avisou:
Moça é só isso que eu tenho para lhe oferecer
Quando pisei naquele chão de terra batida
Entendi que nada é mais valioso que o amor nessa vida
Não tinha mesa nem sofá
Mas tinha os braços dele para me aninhar
Nem sinal de cama ou guarda-roupa
Quando eu ia reclamar
Ele me puxou tascando-me um beijo na boca
Cansada procurei em vão por um chuveiro
Banho moça só no riacho e nua em pêlo
Foi então que percebi que não tinha água encanada e nem energia
Ele sorriu e disse:
Não fica preocupada que com o tempo você se acostuma a tomar banho de bacia
Como não me comover com tantos carinhos?
Subi no banco em frente a casa
E soltei das gaiolas todos os passarinhos
Voaram livres e agradecidos de encontro ao céu
Ele se zangou e gritou meu nome Raquel
Fiquei emburrada e até fiz biquinho
Que mal tem em uma moça soltar um passarinho?
Mas ele apareceu na porta nervoso demais
Ralhou a ponto de fazer chorar a moça de Batatais
Quero voltar para casa porque aqui não fico mais não!
Ele encostou a moça na parede
Essa noite dormiremos juntinhos na rede
Bateu forte o meu frágil coração
O que fazer naquele ermo lugar
Sem computador, nem gafieira e longe da civilização
Se pelo menos tivesse um livro
Certamente atiçaria minha imaginação
Na hora de dormir eu ascendi a lamparina
E ouvi ele me chamar baixinho:
Vem para a rede logo minha menina
Quando ele viu meu rostinho vermelho até ficou com pena
 Não fica envergonhada não minha morena
Sei que aqui não tem nem fogão nem geladeira
Mas em compensação
Você será muito amada a noite inteira
E amanhã eu prometo tudo que for necessário providenciar
Porque o bem mais importante nessa vida
É sem dúvida um ao outro amar...






                                   



Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 18/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3620657