Desejo Profano

Que desejo profano me tira o direito,

ao meu próprio corpo, o que ora me inflama

E do qual sinto a chama a queimar-me no peito?

Por que te quero tanto, porquanto ao mesmo tempo quero fugir de ti?

De tão perturbador o profano que me infundes,

por que desejo tanto

que com todo o teu ser e o teu tesão me inundes?

O que mais temo em mim é este sentir tão forte

Que faz com que eu me sinta fraco e sem defesa

Tal qual David se viu, talvez, frente ao gigante.

Me sinto assim entregue a minha própria sorte

Em que ate mesmo Deus esgota-me a certeza

De ser naquele embate o lado triunfante!

O mais aterrador, porem, é olhar para o gigante

E ver no seu olhar algo de familiar

E então me descobrir inteiro em seu semblante...

Aquele ser medonho e aterrorizante,

Senhor deste temor que me está sendo imposto,

Revela um ser oculto com meu próprio rosto!

Me mostra 'inda um querer do qual não suspeitara,

E aponta pra caminhos que eu jamais trilhara.

É teu esse poder de pores frente a frente

Um eu que desconheço e que me aterroriza,

Com aquele que eu julgava ser meu eu inteiro

E esse eu me descobrir querendo

o que eu nem imaginava que quisesse,

E me mostrar fazendo

O que eu nunca aceitaria que fizesse...

E não contente ainda me mostrasse

que eu desejava coisas que nem sabia

Coisas com que eu nem sonhasse,

nem que pudessem despertar um dia...

E como me foi dolorido

descobrir esse ser escondido...

Que sentimentos são estes, ó Deus,

que me arrancam do céu para o inferno por tão pouco...

E lá deixado me fazem querer viver tudo outra vez, de tão louco?

Te pergunto, Senhor, o que me faz

Manter na minha alma este sabor de guerra

E o meu amor buscar como a um clamor de paz?

Que tipo de buscar no meu peito se encerra

Que dói cada vez mais

E faz com que o que quero se vá todo por terra?

Quão louco é este amor que assim me deixa insano!...

quão grande é este amor do qual tanto me ufano

E ao mesmo tempo traz-me o fardo de um engano!

E Amor, que forca estranha é essa que tu trazes

Que, enquanto o céu me doas,

tão grande mal me fazes por conta da loucura

Que é ter nesta procura o canto que me entoas...

E louca esta mistura de tantos sentimentos

Que me estraçalha o peito em todos meus momentos:

Num deles eu te odeio, no outro mais te quero,

Se num te mando embora, num outro já te espero...

Não sei mais como isto pode ser, o que fazer

para te ter pra mim, sem mais sofrer... ao menos não tanto...

não sei como fazer para me dar pra ti... sem por-te em pranto...

Todos esses desejos, sentimentos e temores

me arrebatam, me dominam, assumem tantas cores

que me assustam, me tomam de horrores...

e em seguida me envolvem em torpores

de amor... de tesão... de paixão por teu corpo,

por teu beijo, por teu sexo, por teu plexo no meu,

Sem o qual me sinto morto...

Que amor tão grande e esse, de paixão, de tanto medo...

Que paixão tão grande e essa, de tesão, de tanto apego?

Como tens tal poder de atirar-me assim no hospício da minha própria alma...

E de assim te transformares para mim neste meu vicio

do qual meu ser depende, pois só com teu ser se acalma?

Vens pra mim como qualquer posseiro

pois me invades, me consomes corpo e alma, por inteiro,

Mas me serves de alimento, sem o qual não sou completo...

E do qual preciso tanto... E que de tudo é primeiro!

Eu desisti de tentar me entender

E entender este amor que me transforma em alguém que não conheço

Mas que ao mesmo tempo me faz perceber que o mereço

Pois que tanto o desejei tão intenso como sabe ser

Que me assusta pois me faz fazer coisas que não fiz

Que me coloca na boca palavras que não se diz...

Que me coloca no peito às vezes coisas tão vis

E ao mesmo tempo tão lindas!...

E me sussurra promessas que se disfarçam de infindas

Que faz da minha vida algo bem mais bonito

E me traz um terror que não seja infinito...

Amor que empresta a alma uma cor de quimera...

que parece essencial, mas e só forma,

que parece real, mas não se entende,

que parece visível, mas 'stá submersa,

que parece interna, mas fica por fora...

Pois que tudo é fugaz, e se transforma.

Pois que tudo é etéreo e se depreende.

Pois que tudo é fumaça, e se dispersa.

Pois que tudo é volátil e se evapora.

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Luiz Roberto Bodstein
Enviado por Luiz Roberto Bodstein em 16/02/2012
Reeditado em 14/08/2014
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