O Chuchu da Morena


Mamãe foi limpar a geladeira
Mas de tão cansada que estava me deu pena
Pode ir descansar que isso é trabalho para sua filha morena
Ainda não é do moderno sistema frost free
Mas quando abri a gaveta de legumes sorri
No cantinho um chuchu teimava em brotar
Resistiu ao frio como se soubesse que um dia minhas mãos o iriam tocar
Descarte o que não for servir mais
Soou a voz severa da mãe da moça de Batatais
Aquele chuchu poderia ser jogado num lixo qualquer
Mas para a sorte dele veio parar nas mãos dessa mulher
Resolvi plantá-lo num palmo de chão
O enterrei com terra, confiança e coração
Tudo a sua volta era o cinza do cimento
Os iguais se reconhecem é no sofrimento
E todo dia eu regava com zêlo e carinho
Enrolava meu corpo em suas ramas para que ele não se sentisse sozinho
Para ele correr resolvi fazer um jirau
Quando acordo manhosa transformo até chuchu em poesia sensual
Subi na escada de vestido
Deixando o pobre pé de chuchu constrangido
E no fio de nylon desesperado ele resolveu correr
Quem sabe daria flores só para ver meus olhos brilhando de prazer
Fiz uma rede sob ele só para poder a noite descansar
Mas ao me ver adormecida assim tão frágil era o chuchu que se punha a sonhar
Suas folhas cresciam só para me proteger do sereno do céu
Do alto derramava pétalas só para enfeitar os longos cabelos negros de Raquel
E assim seguia sua triste sina de legume
Se não chegasse até aqueles lábios murcharia de ciúmes
E então se pôs a multiplicar
Todos os desejos daquela moça iria saciar
Para o deleite dela seria cozido e recheado
Seria o primeiro a ensinar a ela o sabor do pecado
Mas o pai da morena não precisa ficar preocupado
São só delírios de um chuchu apaixonado...








                                 



 

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 13/12/2011
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