Desatino
E o vento mesmo trazia
De fios pretos, de leve
De surpresa, sem pressa
Mansinha, como quem esconde o pecado
Tinha cheiro doce
Levemente puro
Enrolados no próprio tempo
Conhecidos e reconhecidos
E face de todo encanto duradouro
Fez-se a noite fios de ouro
Não sabia mais tão bela quem chegara
Mas de certo arriscaria ser ela
Não pelo doce nem pela face
Mas pelo jeito manso de cruzar meu sono
Pelo tormento de toda partida
Pelo quase que sempre fica
Tão somente despedida
E quando me cruzares tão de leve
Que não seja vento, ventania, temporal
Que me passe toda noite
E até me cause corte
Se abraçado pela sorte
Até me sopre
Fez-se parte de tudo em mim
Sempre torto assim
Inclinando-me a você... Pra ontem, pra depois, até o fim