Desatino

E o vento mesmo trazia

De fios pretos, de leve

De surpresa, sem pressa

Mansinha, como quem esconde o pecado

Tinha cheiro doce

Levemente puro

Enrolados no próprio tempo

Conhecidos e reconhecidos

E face de todo encanto duradouro

Fez-se a noite fios de ouro

Não sabia mais tão bela quem chegara

Mas de certo arriscaria ser ela

Não pelo doce nem pela face

Mas pelo jeito manso de cruzar meu sono

Pelo tormento de toda partida

Pelo quase que sempre fica

Tão somente despedida

E quando me cruzares tão de leve

Que não seja vento, ventania, temporal

Que me passe toda noite

E até me cause corte

Se abraçado pela sorte

Até me sopre

Fez-se parte de tudo em mim

Sempre torto assim

Inclinando-me a você... Pra ontem, pra depois, até o fim

Pedro Hermes
Enviado por Pedro Hermes em 05/12/2011
Código do texto: T3372431
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