Nada Supera o Amor



Quando eu era pequenina vovó fazia bacalhau
E eu questionava perguntando:
Porque ninguém nunca vê a cabeça desse animal?
Ela ficava brava e ralhava por me achar muito sapeca
O bacalhau vinha de longe da distante e fria Noruega
Tem baixo teor de gordura e alta concentração de proteína
Onde foi que você aprendeu isso menina?
Com o livro que fala sobre os Vikings que esta na estante
Meu Deus  já não se fazem netas como antes
Os Vikings não tinham sal para o pescado conservar
E só no século XX que foram a geladeira inventar
Ao ar livre os peixes secavam
Até que rusticamente endurecidos ficavam
Afinal o oceano era o caminho que os povos da época navegavam
Até que os Bascos conheceram o sal
E passaram a salgar antes de secar nas rochas o bacalhau
Meu avô é um típico italiano
Que um dia se casou com uma bela portuguesa
E nessa mistura de temperos
Tiveram filhos e netos brasileiros
Pela bela portuguesa ele sempre foi apaixonado e fiel
Herdei de meu avô todo o romantismo de Raquel
O mundo hoje beira a perdição
Até o peixe que fornece o típico bacalhau esta em extinção
Os homens gritam Feliz Natal e nem sempre tem amor no coração
Muitos não são capazes de diante de uma mesa farta matar a fome de um irmão
E ainda pregam o discurso hipócrita da família em união
Onde o carinho ao outro é embrulhado em papel de presente e pago com tostão
Se por acaso você não tiver dinheiro para presentear
Não se engane
Todo o seu amor será apenas uma lembrançinha sem consideração
E então se sentirá triste e sem rumo
Porque Natal virou sinônimo de consumo
Minha avó não caminha sobre a Terra mais
Se tiver na mesa bacalhau ou não para mim tanto faz
Porque ela me deixou a mais nobre das missões
Através da letra tocar os mais duros e frios corações
Não pense nunca nela a sete palmos do chão
Ela vive no amor que resiste a todos esses anos em seu cansado coração
No final da sua viagem fatalmente irão se encontrar
Essa vida é só uma passagem para o lado de lá
Vô, não derrame lágrimas sobre o jazigo revestido de paz
Recorde a beleza dela como quem contempla a chuva caindo sobre as serras de Minas Gerais
Não peça para ir ao seu encontro nunca mais
Deixe que ela venha até você
Através das mãos de sua neta a moça de Batatais...








                              


 

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 07/11/2011
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