Salto de pára-quedas
Chegou há minha hora, entro no vestiário e lentamente tiro a roupa, no mesmo instante sinto algo diferente, respiração ofegante, mãos geladas, transpiro, as veias borbulham, ainda não sei bem o que é, no entanto, a mente não para de enviar informações, quão a tela de um cinema e minha vida passa como um longa metragem de muita ação, recheados de romance, atravessando as grandes correntezas de aventura, muita comédia e uma pitada de terror. As primeiras imagens de infância, algo que nunca havia me lembrado como o meu primeiro carrinho, uma das minhas paixões, que meu pai pintou com as cores do seu táxi, a afeição e paciência que meus pais e minha irmã sempre tiveram, sem esquecer as broncas, que por sinal, hoje vejo que tinha seus fundamentos - o primeiro beijo, o namoro, casamento, até este grande momento. Enquanto visto esta roupa engraçada, cabe dois de mim, será que acharam que estou fora do peso?
Desço as escadas rapidamente, segurando esta calça que não se cansa de cair, seguindo a seta indicativa até a sala de espera - Chego - Outros também aguardam, parecem estar na mesma adrenalina, olhares distantes e poucas palavras e risadas nervosas saem meio que ocultas aos sentimentos divergentes. Agora falta pouco, com os pensamentos voando coloco os últimos equipamentos.
Escuto meu nome, que vem do corredor fundo, no mesmo instante lembro o que vim fazer, as pernas põem-se a bambear, o coração a pulsar, suar frio, devagar levanto e sigo o caminho do som, iluminado e movimentado, todos que passam não deixam de me observar, será que é esta calça engraçada? Assim continuo, perseguindo o homem desconhecido até a entrada do avião, por sinal, com o motor ligado; Tudo muito novo pra mim, não consigo entender, mas são cinco tripulantes ou posso chamá-los de “Anjos”, são eles que me transportaram a uma nova fase de vida, sei que depois deste pulo ao vazio, tudo vai mudar, será muito mais alegre, divertido, no entanto, com muito mais responsabilidade.
Trabalham arduamente, piloto e co-piloto iniciam a partida da aeronave que decola gradativamente, assisto tudo da cabine, é sensacional, cada vez mais alto, o salto é noturno, já aparecem às primeiras luzes da cidade, como é lindo a vista aqui de cima... “ops”, fui chamado, agora é a hora, não sei se estou preparado, resisto um pouco, entretanto a adrenalina é mais forte, alucinante e acompanho o meu destino, e pulo...
Como uma estrela de primeira grandeza, vejo a coisinha mais linda, sendo incensada nas mãos destes anjos, é o nascimento da minha filha, a Daniela, que emoção indescritível, vibro, o primeiro choro entra em meus ouvidos como melodia, segue pelas correntes sanguíneas ate encontrar minha artérias e alcançar meu coração, que palpita a velocidade da luz, no mesmo instante o corpo amolece, deixo me levar as lagrimas, o sentimento puro e verdadeiro de pai.
Fabiano Sousa, pai da Daniela