Horário de verão
Como não acusar o golpe,
e fingir que desconheço?
Se me mostrar fico nu,
se me esconder, apareço…
Ah alma, diáfano cristal,
incrustado na verdade!
Sob a capa do desleixo
eis o corpo da vaidade!
Quem pode ocultar a dor,
quando o amor veste mortalha?
As vezes, se nega o ter sofrido,
porque o amor-próprio atrapalha…
Ah alma! Translúcida carência,
álgebra das frustrações;
A buscar números inteiros,
onde só vivem frações…
Não tem artifício que apresse,
o tempo d’um coração;
As Onze - horas abrem às onze horas,
às favas o horário de verão!