UM VARAL DE POEMINHAS.
Tenho muitas saudades de ti,
E de consertar as tuas bonecas.
E de fazer no meio da sala,
Pregados na estante e na porta,
Varais para as tuas roupinhas.
Gostava quando me ajudavas,
Com o teu jeito engraçado de ser.
Cortar a grama e fazer o nosso jardim.
Tudo em ti me orgulhava e me fazia feliz,
Ao ver-te rápido, plantar na beirada da lajota,
Flores plásticas, mortas, artificiais.
Ao meio-dia, descansando na cadeira,
Fumava um cigarrinho, e tu ao meu lado,
Estavas pronta para darmos início,
A nossa escolinha no quadro negro.
Que na verdade, era verde, como os nossos sonhos.
Desenhávamos flores, aviões e gatinhos.
Com giz cor-de-rosa e outro amarelinho.
Escrevia, de repente, um pequeno poeminha,
Para ler-te soletrando as letrinhas.
Era muito bom, um verdadeiro céu.
Mas não sabia que uma hora fatal calculada,
Rápida e sem sentido se faria cruel.
Tudo afundou: os sonhos e os teus sorrisos.
Apenas sobrou essa saudade em mim calada.
Eráclito Alírio