BOÊMIO
Boêmio
A noite ainda despedia-se
Beijando a madrugada,
Quando o servo da boemia;
Arrastando-se a passos trôpegos
Pelas ruas da cidade,
Atirava versos contra a lua.
A poeira amarela do passado
Grudada em seu corpo cansado
Falava de uma longa jornada,
A voz tremula; por soluços entrecortados,
Falava de um peito ferido.
Diga-me, amigo boêmio;
No que é que tanto cismas
A relembrar as ilusões da vida?!
Dos que brindaram contigo
Nas cantigas da cigarra;
Resta ao menos uma face amiga?
Das juras de amor eterno
Sussurradas ao pé do ouvido
Na penumbra de um quarto;
Alguma delas sobreviveu?!
Ou jazem todas esquecidas
Junto aos beijos ardorosos
Dos amores que já foram teus?
“Mulher, porque perguntas?
Tu bem o sabes!
Foi o brilho dos teus olhos
A refletirem a luz do luar
Quem me fez desejar
Os beijos de tua boca.”
E só agora percebo minha loucura,
Se foram sonhos o que entreguei a ti um dia
Por recompensa me devolves o pesadelo
De uma vida em eterna boemia.”