BOÊMIO

Boêmio

A noite ainda despedia-se

Beijando a madrugada,

Quando o servo da boemia;

Arrastando-se a passos trôpegos

Pelas ruas da cidade,

Atirava versos contra a lua.

A poeira amarela do passado

Grudada em seu corpo cansado

Falava de uma longa jornada,

A voz tremula; por soluços entrecortados,

Falava de um peito ferido.

Diga-me, amigo boêmio;

No que é que tanto cismas

A relembrar as ilusões da vida?!

Dos que brindaram contigo

Nas cantigas da cigarra;

Resta ao menos uma face amiga?

Das juras de amor eterno

Sussurradas ao pé do ouvido

Na penumbra de um quarto;

Alguma delas sobreviveu?!

Ou jazem todas esquecidas

Junto aos beijos ardorosos

Dos amores que já foram teus?

“Mulher, porque perguntas?

Tu bem o sabes!

Foi o brilho dos teus olhos

A refletirem a luz do luar

Quem me fez desejar

Os beijos de tua boca.”

E só agora percebo minha loucura,

Se foram sonhos o que entreguei a ti um dia

Por recompensa me devolves o pesadelo

De uma vida em eterna boemia.”

Abner poeta
Enviado por Abner poeta em 10/06/2011
Código do texto: T3025483