O Sorriso do Mal
Procusto na mitologia grega representava um bandido que seduzia suas vítimas e as matava quando mentia e quando as mesmas se deitavam em sua cama de ferro que tinha exatamente a medida do corpo dele , representa nos dias de hoje a intolerância do homem em relação ao seu semelhante. Não sei qual morte é mais dolorida, se a da matéria pela tortura ou a da alma pela mentira...
Num beco escuro caminha apressada uma menina
Traz nos olhos a inocência de quem vê além da neblina
De repente uma sombra altiva sai da escuridão
Com medo a moçinha tropeça e cai no áspero chão
Lágrimas rolam por sua face diante do desconhecido pela dor e pelo susto
Com um sorriso ele se apresenta muito prazer sou Procusto
A moça o olha e vê um homem justo e honrado
Sua imaturidade não a deixa enxergar os erros do passado
Uma tempestade ameaçava desabar do céu
Qual o seu nome moçinha e porque caminha ao léu ?
Procuro evolução senhor e me chamo Raquel
Com o firme propósito de mentir e enganar
O homem honrado a convida para ir até sua casa no propósito de um jantar
Hospitaleiro e gentil promete na moça nem um dedo tocar
Ela lhe estendeu a mão cheia de promessas de amor
E ele era um bandido que vivia num reinado de terror
Ao chegar a casa dele vê uma cama de ferro coberta com pétalas de flor
Ali ele matava moçinhas sonhadoras sem se importar com qualquer suplício de dor
Se a moça não se moldasse as medidas exatas de sua cama
Seria esticada ou amputada mesmo gritando que o ama
Mas essa era diferente pois exalava cheiro de rosas
Ao som de Mozart Lacrimosa
Ele não mentiu mais omitiu verdades demais
Deite-se na cama e seja para sempre minha moça de Batatais
Se eu me moldasse a ele talvez me amaria
E então eu seria um corpo oco numa cama fria
Mais minha alma veio ao mundo para voar
O amor não é um sentimento que obriga um ao outro se moldar
Mas por amor a todas as situações podemos nos adaptar
Prefiria mil vezes deitar na cama da morte do que nunca mais sonhar
Naquela hora senti por ele uma mistura de asco e de amor
Então recitei poesias mesmo acreditando que um poeta nem sempre é um fingidor
Quando ele sentiu a maciez dos meus cabelos
Tocou meus lábios como um mudo e desesperado apelo
Finalmente entendeu que nessa vida ninguém ele amou
E até essa menina que acreditava nele ele enganou
Remorso sentido pela face dele em forma de lágrimas vi rolar
E se deitou lentamente na cama de ferro com os braços abertos a me esperar
Seu corpo a minha alma jamais iriam se moldar
A cama decepou seus pés e sua cabeça aos meus pés veio a rolar
Fiquei imóvel sem por um mentiroso uma lágrima derramar
A mesma mão com que lhe afaguei a face com ternura no olhar
Usei pela última vez as pálpebras molhadas dele fechar
E corri de novo para a neblina
A noite sempre protege uma menina
Nos becos não amo nem sou amada
Não julgo mas sou julgada
Fechei os olhos para não ver ele me enganar
Nem por amor permito alguém me machucar
A boca mente mais nunca mente um olhar
Até um homem honrado perde a cabeça por um dia amar...