Cama de Folhas

A colheita do café se dá no final de maio e início de junho. As folhas do cafezal se tornam frágeis como se entregassem nas nossas mãos os frutos que gerou durante um ano inteiro, e logo depois do inverno as folhas caem dando início a um novo ciclo, com novos brotos , novas flores e de novo o que de mais especial possui para nos entregar que são os frutos. Há quem diga que mulheres rurais não são femininas nem românticas, a essas pessoas convido a vir tomar um café aqui em Batatais ...

Na imensidão da lavoura de café

Em meio as ruas verdes trabalhava uma qualquer

Aterissava puxando das varas os grãos de ouro

Levantava a saia do pé de café como uma dama reverenciando um tesouro

Arrastava um pano pesado em meio a poeira no chão

Entre as folhas de café que pareciam querer protegê-la do frio da estação

Animais peçonhentos sempre se escondem no meio do cafezal

Como se não sentisse dor uma trabalhadora rural

Depois de colhido junta-se o café retirando as folhas secas e os paus

Nenhuma queixa porque esse trabalho para ela é absolutamente normal

Na peneira ela arremessa os grãos de encontro ao céu

Deixando o café limpo como a consciência de Raquel

Pausa para o descanso

Uma merenda e um café mais só disponho de meia hora

Tempo suficiente para ela despertar o romantismo de outrora

Cansada se deita naquele pano que tem a aparência de estar sujo demais

Mais tudo fica puro quando fecha os olhos a moça de Batatais

Então o pé de café se transforma num bom rapaz

Sem dinheiro mais com sentimentos valiosos demais

E ao vê-la assim tão entregue ali no chão

Resolve pela primeira vez na vida seguir seu coração

Em meio aos murmúrios da natureza

Vê naquela moça simples do campo sua nobre princesa

Retira o lenço que a protege e é tão macio

Espalhando os cabelos que se assanham no vento frio

Enquanto a moça o abraça como se preenchesse dentro dele um vazio

São tantas roupas a se tirar

Como uma criança que ganha um presente e fica louco para desembrulhar

A moça que tem aroma de café passado na hora no coador de pano

Tão romântica que até soluça ao dizer ao seu ouvido te amo

Fazendo ele deixar de lado toda e qualquer razão

Sem castelo o leito da primeira vez foi ali naquele chão

Berço onde germina a semente que forma uma plantação

A cama de folhas que recebeu dois formando apenas um no momento único de paixão

Debaixo de um pé de café

O rapaz viu desabrochar de uma menina uma mulher

Logo a hora do café vai terminar

Para a lavoura a moça de novo irá voltar

E o pé de café na sua forma bruta irá de novo ficar

Mais por meia hora hoje ela sentiu como é magico ao amor se entregar

Quem sabe ela no ano que vem volte a minha sombra para descansar

Deseja o rústico pé de café que hoje ofertou seus frutos e em troca aprendeu a sonhar

A moça caminha rumo ao futuro visçosa por já saber o que é amar

Enquanto o pé de café murcha de saudade sempre esperando que um dia ela há de voltar...

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 23/05/2011
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