SEMPRE APARECE ALGUÉM PARA SUBSTITUIR ALGUÉM
31.12.05.
Não leve em conta essa minha mania de ter mania de
sempre falar a verdade
Também não tenho nada a perder
Eu sei, você deve mesmo ter tentado achar em mim um grande amor
Eu sei, você deve ter mesmo me amado do seu jeito
Nem quando precisou pela primeira vez pude ajudar
Sua fita não consegui desamarrar
Você veio chegando como quem chega para uma aventura
Veio ficando como quem não quer nada, havia uma certa candura
Comecei a acostumar com sua distância
Eu não era assim de me acostumar...
Veio aquele seu choro às vésperas e nada entendi
Fraco, solitário, fiquei balançado
Perdia no tempo toda curta espera intensa do possível “não vá embora”
Pedia em mudas palavras que mudasse meu destino
Nua e crua estava minha cara amarela
Aquela coisa de rodoviária nunca me apeteceu de verdade
Eu precisei me castigar, expor meu peito ao vento
Cair no relento para depois me levantar
Era tudo muito ruim, até o destino parecia ruim
Mais não foi, tinha de ser como foi
Você passou enfim a ver em mim O GRANDE AMOR
Coisas adolescentes, tardiamente adolescentes...
E eu nunca fui sonho de consumo de ninguém
Nem mesmo esperava viver coisas tão diferentes do casual
Já não lia Machado de Assis, nem mesmo Nelson Rodrigues
O frio me constipou, as cobertas me fizeram sentir calor, agonia
Meu putreficado cérebro não pensava mais
Seu suposto amor silenciava meu fôlego, meu ardor
Fiquei transmudo, catatônico
Eram as geadas... eu achava...
Eu achava que o frio era bom para pensar
Que nada...
Nunca fui bom em recepções, quem dirá em despedidas
Novamente rodoviária
Não fiquei vazio pela primeira vez
Sempre aparece alguém para substituir alguém...
Fui salvo, salvo novamente; incólume voltei à minha terra
Deparo-me com cuidados
Passei então não mais saber se era amor ou concorrência
Até hoje não sei de ambos os lados o que é
Nem sei o quanto seria interessante saber e no fundo isso em nada
muda mesmo
Assim são nossas vidas
Resultados de nossas decisões, precipitadas ou não
Pensadas, estudas ou não
A distância, o arrependimento, a ânsia, o desprendimento
Mas insisti até o fim para saber o final
Insisti até o fim num desfecho que me fizesse saber ao menos se
existe esse tal de amor
Descobri que ele pode ser perigoso, mentiroso
Descobri que ele é possessão, é domínio
Percebi que se ama espectral e ilusoriamente
Simplesmente porque esse tipo de amor descarta o sentimento como
se troca de roupa
Pouca coisa sobra, resta quando se ama assim
Mas ainda insisti, queria saber se amor e ódio são mesmo coisas que
caminham juntas?!
Descobri que preciso de amor incondicional
Descobri que não preciso sofrer a dor de meias palavras
Percebi que rodeios e mentiras acabam comigo duma só vez
Mais um ano de muitas histórias
Parecia mesmo que você queria viver um grande amor
Acreditei na felicidade
Creditei esperança num saco furado que ama tanto quanto odeia
Obrigado por ter me enganado
Obrigado por ter me dado tanto assunto para poesia
Suposta poesia, suposto amor...
Pode ser que não
Pode ser que tenha sido a única verdade entre tantas mentiras
Pode ser que a única verdade seja um amor do seu jeito
Não posso ocupar a mente alheia
Alheia às minhas vitalidades e sonhos
Não posso resumir seus sentimentos exclusivamente às suas mentiras
Não posso cometer o pecado de desprezar suas palavras de amor
E também não posso viver de palavras faladas
Sou assim de pagar para ver
Sou assim de deixar o tempo passar
Sou assim de descartar quem me descarta:
Auto-defesa
Altruísmo!
O próximo mais próximo de mim sou eu mesmo
Obrigado pelo teatro de lonas e neons
Obrigado e me perdoe se você não conseguiu ser como preciso
Me desculpe por eu ser sério demais com as coisas do amor