A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO AMOR

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO AMOR

(Goulart Gomes)

Que ninguém saiba:

falo dos teus olhos

Terras castanhas, precipício de almas;

Que ninguém veja:

falo do teu riso

Oceano de ritmos, vertigem e calma;

Que ninguém ouça:

falo da tua voz

Perdição de Ulisses em alto mar;

Que ninguém toque:

falo das tuas mãos

Recriar do mundo, elementar;

Que ninguém sinta:

falo da tua boca

Pura seda, roçar de borboletas;

Que ninguém aspire:

falo do teu cheiro

Inspiração eterna de poetas;

Que ninguém ouse:

falo do teu corpo

Porção visível do infinito;

Que ninguém duvide:

falo do que sinto

Amor assim não houve, mais bonito;

Que ninguém entenda:

o amor é um hiato

Entre o vivido e o sonhado;

Que ninguém tema:

o amor é imponderável

Fluido, muito além do leve ou do pesado.