Desespero inútil
eu sei que devo esquecer e por que não esqueço?
os fios dos teus longos cabelos
teus gestos
teus gostos
o teu cheiro
teus dedos
tantos detalhes
teus erros, os meus
teus descaminhos
minha insanidade
o chão onde pisas
aquela música que ainda toca dentro de minh'alma...
eu sei que devo esquecer
mas por que não esqueço
quero gritar e meu grito é mudo
quero seguir meus olhos cegos
nada vêem senão teu reflexo nas sombras
o gosto da tua boca me confunde e deixa todo o resto insosso
até tuas mãos se fazem inalcançáveis...
quero esquecer mas não consigo
tanta solidão, tanto desamor
e me deixaste aqui entre lobos
meu senhor
quero esquecer o tempo, o falso, o duvidoso
esquecer o medo, o gesto apático, a minha ingenuidade
quero correr não tenho pernas que te alcancem
nem braços que te toquem
nem voz que te grite
nem cor
nem nada
ah se eu pudesse voltar no tempo e desfazer cada engano
se pudesse me tornar o que não fui...
mas já nada resta nem a esperança de tempos mais azuis
nem de 15 dias de festa
pra um eternizar de desesperanças e ilusões
quero esquecer mas não consigo
somente um canto mântrico repetitivo
ao longe me dá alguma espécie de alento
que faz com que eu sobreviva e não cometa o crime
de matar-me a luz da manhã
quando a tua saudade se faz ainda mais viva...