Um sorriso em Meio às Cinzas

A menina ganhou do avô uma boneca de pano

Aprendia com ele os primeiros acordes do piano

Ia crescer saúdavel num belo sítio

Ele via na neta a moça bela que um dia se tornaria

Mal sabia ele que da infância ela não passaria

Seria mais uma vitíma inocente daquele cruel genocídio

Numa manhã a menina ouviu os gritos dos pais desesperados clamando por Deus

Os soldados vieram buscar a criança que deveria morrer por ser neta de judeus

Pegou a boneca de pano e o soldado sua mãozinha segurou

Para sempre o piano o avô fechou

Com a inocência típica das crianças

Encontrou com outros milhares de olhinhos cheias de esperança

A boneca de pano segurou com muito amor

Tão pequena e já tida como uma raça inferior

As crianças eram atiradas vivas à fornalha sem piedade

Jesus deve ter chorado com vergonha da humanidade

Entre na fila e fique quietinha

Disse o carrasco nazista para a menininha

Seu avô sempre lhe dizia que cada criança tem um anjo protetor lá no céu

Em Auschwitz uma geração virou cinzas e carvão

Aguardava sua vez sem saber a menina que usava tranças e tinha bom coração

De repente um moço surgiu e perguntou sorrindo qual o nome da sua bonequinha Raquel?

Felicidade ela sorrindo respondeu

Um sorriso o rapaz a devolveu

Pegou a boneca na mão e pediu que a menina o ouvisse com atenção

A humanidade pensa que para evoluir

Basta um ao outro destruir

Isso é uma mancha do qual todos para sempre irão se lembrar

É um retrocesso para se aprender a andar

Crianças de todas as idades

Serão acolhidas e esclarecidas na eternidade

Um dia o ser humano verá que não passa de um rélis mortal

Mas depois do horror do Holocausto nada mais será igual

Sempre vou te acompanhar

E daqui algumas décadas você irá voltar

Dizendo o que muitos não querem escutar

Sempre estarei ao seu lado e ainda a verei feliz demais

Não importa o tempo um dia serás a moça de Batatais

Chegou nossa hora vem para o meu colo menina Raquel

Me abraçe sem medo sou o anjo Gabriel

Dizem que em chão que se derrama sangue

Flores não nascem nunca mais não

Ainda hoje se ouvem o choro das crianças ecoando nos campos de concentração

A menina caminhando rumo a morte segurando o anjo pela mão

E o símbolo daqueles que acreditam que ninguém vem a esse mundo em vão

Em meio às cinzas a boneca de pano caída no chão...

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 04/02/2011
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2772677