Princesa sem tempo
Excerto de uma história medieval...
Num tempo sem valores e sem costumes
Onde o pobre rastejava pelo chão
Abençoando os acordes duma velha ilusão
Existia uma menina que no parapeito da janela
Entoava a canção da esperança alheia
Relativizando um passado recente
Que deixava permanecer dormente numa velha escada
Onde cada degrau era um sonho sem tempo
Um trajecto de ousadas lembranças
Um tapete de suave veneno
Batiam na fachada da casa de outrora
Estrelas e constelações cintilantes
Eram as recordações que espelhavam emoções
Algumas delas inaugurais outras repetições
O que é certo é que suavemente
O espírito se ia embrenhando num doce alento
Repleto de momentos condensados de sentimentos
Onde hoje talvez se tenha evaporado a essência
Sem se ter perdido a demência do verdadeiro Amor
As pedras gastas da calçada eram a prova
Das imensas cavalgadas e dos percursos sem tempo
Que o príncipe da espada sem lâmina
Percorria em cada dia em que alguém escrevia
Um conto que não era mais que a realidade
De uma fábula sem ocaso
Onde personagens envolventes traçavam destinos
Metas e estradas de cores brilhantes
Fruto da imaginação ou quem sabe da paixão
Que invade o coração de quem ama
A princesa nunca teve um castelo
Era simples o seu sentir e a sua pretensão
Não desejava pompas de actriz
Nem enfeites de Paris
Só precisava da vidraça repleta de flores
Para que o paraíso entrasse pela porta dentro
E com o seu pólen das fadas
Preenchesse no peito o vazio e a lacuna
De uma ausência
Da qual se desconhece o assunto
E no fundo a pobre donzela
Só precisava que o príncipe
Deixasse o cavalo branco
E entrasse pela janela
E lhe dissesse sorrindo
“Vamos ser felizes!”