Coracisco
Meu pobre coração lançado no calor do brejo
Fervilhando mil sonhos sufocados por mim mesmo
Muralhas imensas que do juízo emanam
Segurando minhas pernas tenazmente
Mas ainda as destruo de repente
Com a força cruel do meu verbo
Um dia a mais e meus neurônios se dissolvem na inércia
Que conservo e embalo no meu colo
Canto, balanço e ponho pra dormir
Cada conquista tem o sabor acre de solidão
Mas eu vivo e desafio na firmeza deste sangue
Desafio a mim mesmo pelo que eu seja
Tudo é por amor e por amar o que me sobra
Amo com todo o meu âmago e conteúdo
E o que eu mais acredito nem sei mais
Só não pode me faltar a fé no instante da agonia
Pus doces balas de paixão na minha língua
E as disparo uma a uma no horizonte
E o desafio constante de ser inteiro?
Espalho minhas cartas sobre a mesa
Sufocando a trapaça necessária
E é toda minha a saliva deste doce
E é todo meu o veneno deste cálice
A única coisa que vejo é a guerra
Homens disputando o pão com as garras
Troca de facadas e beijos no escuro
Mortos e destroços no final do dia
Meus olhos tristes derramam-se na Lagoa
Minha voz em forno quente ecoa em João Pessoa
Ressurgindo etérea na fumaça dos automóveis
Sob a argêntea lua desta cidade em desespero
Ai que dor no coracisco
Eu que não sou Francisco enforco-me todo dia
No grito mudo dos ideais trucidados
Ouço gargalhada e vaias na multidão
Teclo o seu nome dedo a dedo
A palavra que não cala nesta tarde
Você que entra e sai do meu peito
Leva-me o brilho deste sol que ainda arde
O farol do Cabo Branco ilumine meus sonhos
E se for verdade o que quer que seja
Nesta cerveja que me delicio a tarde
São áureas gotas dessa paixão latente
_ Mas poeta velho, tu se lasca de novo ...
Essas coisas de paixão é na pele que se risca
A maquiagem derretida queimou meus olhos
E o silêncio paira na arquibancada
Esqueço o texto, mas mostro este olhar
Que vomita verdades no camarim da história
Misturando lágrimas e aplausos ensurdecedores