Sou Eu

Sou eu

o que te busca sem horário

na numérica aflição

do tempo que se perde.

O que transgride o desígnio dos deuses

e arremessa teu nome contra os astros...

O que discorda dos acordos instituídos,

o que nunca consultaram

sobre o quanto é vulnerável à tua ausência.

O que despreza as convenções da hipocrisia

dos que ferem a liberdade com poder,

dos que agridem a ternura com blasfêmias.

Sou eu

Quem sangra sílabas da pena...

Quem se veste de aurora e girassol

no arco incendiado das manhãs.

O teu lado obscuro e clandestino

que se esconde à sombra do que sonhas

no percurso luzidio por onde segues.

Sou eu o que pôs verso em suas setas

e feriu teu coração com poesia.

O rebelde da insônia em plenilúnio

que impôs o mandato das roseiras.

O caminhante solitário dos outonos

que em êxtase de ocaso itinerante

circundou-te de trigal e arco-íris.

Sou eu o que o destino proibiu

de viver a primavera no teu colo.

O que o tempo condenou a seguir só,

o amaldiçoado pelos signos,

o que, mesmo, proibido e assinalado

contrariou o vaticínio

e contigo se exila a conspirar eternidade.