O Afogado
Aonde irei tatear-te neste mar?
Sob as águas do luar
Há o mar em teu olhar
Correntes submersas fugidias em água
Embrandecendo eloqüentemente à mágoa
De seres braçadas no tato inexistente
Do sentimento do amor ausente
Que boiando inverso a frente arrasta as espumas
E perde-se na imensidão que lhe perturba
Indo a muito além das eras
Lufado ao gesto frio que souberas
Que ainda quiseras
Dos amores que houveras.
E há tanto amor em meus dedos
Que teus ouriços aguçados de medos
Desespinhariam-se na concha de minhas mãos
E eu as levaria a teus ouvidos sãos
Para que borbulhando afogassem ao leito
Das estrelas peroladas do teu peito
E ouvissem a convulsão de sal
Da nau
Do teu olhar
Que naufraga a amar.
E esse abismo nefando do teu seio
Então, como um oceano escasso de receio
Preencher-se-ia a léguas de meu corpo
Tendo-me a cada porto.
E se um vendaval de nebulosa arrastada
Devastar-te a uma lestada
De abandono de vida e sorte
Para o infinito ralo da morte
Mergulharia em necrópoles a buscar-te
Trar-te-ia lenitivos ao achar-te
Até que desperta me olhasse
Com os olhos de quem nasce
E entre - erguendo os corais de teus braços
Caísse a meu regaço, fustigada de cansaço
Enquanto eu afundando a teus ouvidos agitados
Falaria como ondas com os lábios marulhados
Para recostar na liquidez natural do teu olhar
E fazer-te ver como eu sinto o que é lhe amar
E amar, e amar e amar...
Minha pequenina estrela deliqüescente
Tenho-a em traços quando a face contente
Enxerga-te na beleza de sorrir
E quando sonhas remexendo-se a dormir
Ah... Minha romã d’água quero amalgamar meus lábios
No grená dos teus lábios
Quero teus cabelos negros cor da noite
Repousados em meu peito toda noite...
E se há ainda mar em teu olhar
Feito lágrimas infindas a boiar,
Fechando-te em ostra como triste à ancorar
Navegar-te-ei na em face de lhe amar
E dentro a treva de tua carne jogar-me-ei a afogar-me em ti...