Enigma
Estranha percepção
que em mim traduz de ti
o desígnio da rosa,
a noção que te avalia
no que é indefinível,
clarividência tátil
no ângulo cego da vida
lendo braile em tua pele.
Eu percebo teu enigma
quando o tempo de outras eras
vem mirar-me num olhar.
Sensação de eternidade,
revelada alma nua
quando os corpos se descobrem.
Essa força indefensável,
lei transcrita e ilegível,
que nos une e nos separa
sem registros na memória:
Somos nós vivendo em outros
Ou, talvez, outros em nós?
Mesmo a verdade velada
transparece o sortilégio
desse código dos deuses
e no oráculo dos olhos
as névoas se dissipam,
os séculos se acercam
em símbolos de luz:
O que nos leva à cruz
também nos conduz ao céu...
Não quero equacionar em verso
o inverso do que nos enumerou.
A mim me basta a comunhão da carne
nesse gozo iluminado
quando as almas se percebem
e as bocas se procuram
e os olhos choram pérolas
e a vida desfalece no limiar da eternidade.