Reminiscências

Era uma bela e calma manhã de domingo quando eu a vi pela primeira vez.

Como poderia me esquecer daquela manhã? Não é possível meu amor, delir a reminiscência do nosso primeiro encontro. A lembrança está viva em minha memória como lume teimoso e vivaz. O sol imponente se debruçava no horizonte e soerguia-se lentamente num céu de azul turquesa. Deus risonho com esmero havia pintado aquela manhã. Era uma verdadeira aquarela. Os pássaros gorjeavam divinamente empoleirados nos galhos das árvores que dançavam no lento ritmo dos zéfiros. As brumas se desfaziam e os cheiros do viço da manhã e do orvalho enchiam a vida. As flores desabrochavam suavemente e se despiam sem pudor em uma nudez lúdica. Tudo conspirava misteriosamente em nosso favor. Acredito que os anjos no céu se inclinavam nas nuvens para nos ver. Eu, um jovem poeta, era professor convidado para lecionar uma aula naquela manhã em sua igreja. Você, uma moça no albor da juventude e beleza, estava lá para ouvir um “desconhecido” falar sobre Deus. Seu nome eu já sabia. Mas ainda não conhecia a “menina” de que me falaram. Mas lá estava você bem na minha frente, e naquele momento eu disse para mim mesmo: “é ela.” Eu estava certo. Não muito depois daquela manhã nos tornamos bons amigos. Saímos pela primeira vez juntos a “uma livraria”, e como foi bom saber que você também amava livros. O tempo foi passando morosamente, e entre uma palestra de Teologia e uma exposição de arte, fomos nos tornando mais próximos, e próximos e próximos. Seu jeitinho de menina foi me seduzindo, me conquistando sem eu perceber. Uma flecha de Eros me acertou o coração. Então mais uma vez fomos até a livraria. Era uma linda tarde no dia 04 de Junho. Eu estava ansioso, esperando você chegar para eu falar o quanto eu estava te amando e como você conseguiu furtar meu coração. E lá vinha você, bela e envolta numa beleza rara. Meu coração disparou célere dentro do meu débil peito. Juntos e separados entramos na Livraria. Lá, no mesmo lugar da nossa primeira voltinha juntos eu me declarei com um verso de um soneto de Estevão Rodrigues de Castro (Ausente, pensativo e solitário), e lhe fiz a boa e velha pergunta dos enamorados: quer namorar comigo? – “Sim”, foi sua resposta. E agora saíamos da Livraria juntos e de mãos dadas. Os dias então foram passando e nosso amor na medida em que eles passavam aumentava mais e mais. Também não sou poeta Menina, sou amante. A poesia é a tentativa de dar nomes aos sentimentos, mas o que sinto por você é inominável. Não tem tamanho, não tem limites. Os poetas chamam isso de amor. Eu não apenas chamo esse sentimento de amor, eu sinto esse amor. E quero continuar sentindo esse amor até quando Deus quiser e a eternidade durar. Te amo Thalita.

Adriano Luchi

Van Luchi
Enviado por Van Luchi em 27/07/2010
Reeditado em 27/07/2010
Código do texto: T2403424